data-filename="retriever" style="width: 100%;">Todos os dias, há notícia de violência contra mulher, só pelo fato de a vítima ser mulher. As agressões divulgadas podem ser comparadas à pequena ponta de um grande iceberg, pois a esmagadora maioria das agressões não chegam ao conhecimento das autoridades e, por isto, terminam não sendo noticiadas.
Nos últimos dias, tem repercutido o caso do jogador Robinho, que foi condenado pela justiça italiana por estupro. O que se nota é que há um considerável número de pessoas relativizando e até mesmo admitindo a violência que o jogador admitiu ter praticado. No caso, ele e outros, aproveitando-se da embriaguez da vítima a violentaram sexualmente de diversas formas. Ele não nega, mas se justifica, como se o fato de mulher estar embriagada, sem possibilidade de consentir ou reagir, pudesse dar o direito de qualquer um tomá-la como se fosse um objeto e abusar de seu corpo. Não se trata de um "Zé Ninguém", mas de um jogador de ponta, que para o bem e para o mal termina sendo exemplo.
Na esteira de fatos lamentáveis desta natureza, chega-se com frequência ao feminicídio pelas razões mais banais, como ocorreu nesta semana em Minas Gerais, quando o candidato a vereador Adílio S. Gomes matou a facadas sua mulher, a servidora pública Roberta Araújo, em razão de uma briga pela porta da geladeira aberta.
Isto decorre de uma cultura machista em que homens se acham superiores às mulheres, ou, o que não é raro, algumas mulheres acreditam que os homens são superiores. Isso nem sempre significa ódio ou um esforço para excluir as mulheres, mas o descaso para com elas, que são reduzidas a objetos de fruição e prazer e, por serem objetos, descartáveis.
Mas não só a violência física é opressora. A violência psicológica, tão grave, e talvez mais comum do que a violência física, dificilmente é denunciada. Caracteriza a violência psicológica submeter a mulher pelo medo, desqualificar sua imagem e, sobretudo bloquear as formas pelas quais ela pode sair da situação de opressão.
É importante trazer estas questões à lume, porque, ao mesmo tempo que escancara o machismo reinante, desperta nas mulheres e nos homens a consciência da brutalidade a que o sexo feminino está sujeito, e somente a tomada de consciência dos resquícios de barbárie que contornam o machismo poderá construir um ambiente de respeito e igualdade de direitos.
A afirmação pode parecer brutal, mas precisa ser afirmada que, para um número considerável de pessoas, as mulheres são equiparadas a semiescravas.
Quando se fala em violência contra a mulher, geralmente nos vem à ideia aquela mulher machucada, com lesão física. Mas a violência psicológica, muitas vezes mais grave e com consequências muito mais devastadoras, acaba passando desapercebida até mesmo pela própria vítima.
Daí a importância de denunciar casos de abusos e puni-los, como forma de gerar uma nova consciência social assunto.
*Este artigo foi originalmente publicado na página 4 da edição de sexta-feira, 23 de outubro de 2020.
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